7 de set. de 2013

 

Corinthiano Zé Elias conta histórias da estreia e brinca sobre "perseguição" de Ronaldo Fenômeno

09h 07/09/2013 - EspeciaisAgência Corinthians
 
© Ricardo Correa/Placar
Zé Elias em ação com a camisa do Timão
Zé Elias em ação com a camisa do Timão
O abraço do pai que viajou centenas de quilômetros, a “perseguição” do atacante Ronaldo e a relação de pai para filho com Mário Sérgio. Vinte anos depois, existem muitos bastidores em torno da estreia de Zé Elias no Corinthians, ocorrida em um jogo com o Cruzeiro, no Mineirão, em Belo Horizonte, no dia 7 de setembro de 1993, pelo Brasileirão.
A chance como titular do Timão aos 16 anos de idade veio graças a Mário Sérgio, que treinava o time alvinegro no Brasileirão de 1993. Recém-chegado à equipe, o técnico promoveu Zé Elias e viu as qualidades do volante logo no primeiro treino. Colocar um jovem daquela idade não era problema para Mário Sérgio, que logo falou para o jogador: “Garoto de 16 anos para mim já é homem”.
Começava ali uma relação de confiança mútua e muito paterna. “Minha relação com o Mário é até hoje de pai para filho. Eu continuo o chamando de “Seu Mário”. Sempre o procuro para pedir conselhos. Quando comecei a minha função de comentarista, conversei muito com ele, que me deu várias dicas”, disse o Zé da Fiel.
A chance apareceu, Zé Elias jogou, o Corinthians venceu. Se por algum momento o volante pensou em abandonar o futebol de campo para focar no futsal e nos estudos, a história estava sendo reescrita. E o pai do volante fez questão de vê-la in loco, no estádio. “Uma coisa que me marcou muito foi quando eu encontrei com o meu pai após o jogo. Ele foi de ônibus, de São Paulo para Belo Horizonte, só para me ver. Eu dei um baita abraço nele naquela hora”, relembrou.
O interessante é que Zé Elias não era o único menino de 16 anos em campo naquele 7 de setembro. No lado do Cruzeiro, havia um atacante franzino que também estava começando a carreira logo cedo e que, algum tempo depois, dominaria o mundo do futebol. Era o Fenômeno, era Ronaldo. Os dois acabaram virando amigos e companheiros de time algum tempo depois, o rendia brincadeiras do Zé da Fiel.
“É curioso, porque quando joguei com o Ronaldo na Inter de Milão, eu tirava uma onda com ele. Quando estreei com os profissionais, ele também estreou. Quando virei titular na seleção olímpica, que foi para Atlanta-1996, ele também virou. Quando eu acertei com a Inter de Milão, ele também acertou. Em tom de brincadeira, falei que ele me perseguia, contou o ex-volante aos risos.
Reveja a Fiel cantando parabéns para Zé Elias em 1994
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De quase ex-jogador a Zé da Fiel: os 20 anos da estreia de Zé Elias no Timão

09h 07/09/2013 - EspeciaisAgência Corinthians
© Ricardo Correa/Placar
Zé da Fiel, um jogador que levava o Timão na própria pele
Zé da Fiel, um jogador que levava o Timão na própria pele
É uma história que poderia ter a assinatura de algum roteirista de filmes, seriados ou novelas. O jogador de 16 anos, prestes a completar 17, que almeja jogar futebol de campo, mas, desiludido, está prestes a abandonar o sonho. De repente, uma reviravolta muda toda a situação, e esse jovem se vê como titular do Corinthians. E vira ídolo em questão de tempo. Esse conto é real. O personagem em questão se chama José Elias Moedim Júnior. O Zé Elias. O Zé da Fiel.
Há exatamente 20 anos, no dia 7 de setembro de 1993, o volante Zé Elias foi lançado com apenas 16 anos na época pelo técnico recém-chegado Mário Sérgio como titular do Corinthians contra o Cruzeiro. Detalhe: fora de casa, no Mineirão, em Belo Horizonte, pela estreia no Brasileirão daquele ano. Um cenário que poderia ser assustador para qualquer um, mas foi encarado como naturalidade pelo jogador.
O Timão venceu o jogo por 2 a 0, e, a partir dali, se iniciou uma trajetória marcante de Zé Elias com a camisa alvinegra, com 162 jogos e apenas dois gols. Um volante que nos tempos atuais seria chamado de moderno. Era raro vê-lo no ataque porque, na época, o trabalho era bem dividido, os volantes marcavam, os meias armavam e os atacantes faziam gols, como disse o próprio Zé da Fiel. Executava o “trabalho sujo” de matar as jogadas do adversário, mas com a bola nos pés, tinha técnica suficiente para deixar seus companheiros na cara do gol com um passe.
Vinte anos depois, o Zé Elias relembra a história de sua estreia, em especial produzido em parceria com a Placar e a TV Globo. Conta pela primeira vez que chegou a pensar em largar o futebol do campo antes da chance e fala sobre a idolatria dos torcedores, que, tanto tempo depois, ainda o param na rua e tietam o Zé da Fiel, que atualmente é comentarista da Rádio Globo.
A história da estreia contada pelo próprio Zé Elias
“É até um momento engraçado, porque eu ia parar de jogar futebol de campo. Naquela época, eu jogava campo e salão, em que eu atuava pela GM. Eu treinava todos os dias, em todos os períodos. Saía de casa às 6h e chegava à 1h. Foi essa rotina durante três anos, dos 14 aos 17. Eu era convocado para todos os jogos dos aspirantes, mas sempre era cortado. Chegou em um momento que não dava mais, eu não aguentava mais, avisei meus pais que iria ficar só com o salão. Eu tinha uma bolsa de estudos para um faculdade, iria cursar fisioterapia. Foi aí que veio a reviravolta.
Depois que o Corinthians perdeu para o Palmeiras na final do Paulista e no Rio-São Paulo de 1993, houve uma reformulação no futebol. O Mário Sérgio foi contratado, e veio o Márcio Araújo para cuidar das categorias de base. Todos os juniores que estavam no profissional voltaram para o time da base. Nessa equipe, logo no começo, passei a jogar como titular. Eu joguei contra a Ponte Preta em Campinas, perdemos por 1 a 0, e contra o Santo André no Parque São Jorge, empatamos por 1 a 1. Joguei bem nos dois jogos.
Acho que chamei a atenção do pessoal. O Mário Sérgio pediu para o Márcio que cinco jogadores dos juniores fossem promovidos para o profissional. Aí o Márcio veio me chamar, avisando que eu iria treinar com os profissionais e seria inscrito para o Brasileirão. Mas isso não significaria que eu iria jogar. Eu lembro que fiquei muito feliz, fui para o orelhão que tinha no clube e liguei para os meus pais, eles compraram sidra para comemorarmos.
@ Ricardo Correa/Placar
Zé Elias era o que chamam de volante moderno: sabia marcar e sair para o jogo com a mesma qualidade
Eu cheguei no treino numa terça-feira. Eu era conhecido como Elias, mas já havia um Elias, o lateral esquerdo da época. Aí quando chamaram o Elias, eu preferi ficar na minha, eu estava acabando de chegar lá. Foi quando deram falta de um volante e perguntaram onde eu estava. Aí me apresentei. Eles perguntaram porque eu não tinha me manifestado, eu falei que não sabia se era eu ou o Elias lateral. Daí por diante, fiquei conhecido como Zé Elias.
Eu imaginava que estava ali só para completar o treino. Eu me lembro que na época o Mário Sérgio falava que o Embu seria o cara dele para proteger a área. Deu 20 minutos, ele tirou o colete do Embu e me deu. Eu dei o passe para o Rivaldo fazer um gol. Depois, sofri uma falta, o Valber fez o gol em seguida. No fim daquele treino, o Mário Sérgio disse para mim: “Te cuida, hein? Garoto de 16 anos para mim já é homem”.
Vieram me avisar que eu iria treinar de novo entre os profissionais. Eu não acreditei. Tanto que, na quarta, eu me apresentei para os juniores. Aí falaram: “O que você está fazendo aqui? Você vai treinar com os profissionais”. Eu fui, e o Mário me colocou como titular. Chegou na quinta, me avisaram que eu ia jogar contra o Cruzeiro no sábado.
Para falar a verdade, eu só fui ter a noção da grandiosidade daquilo tudo, de ter estreado com 16 anos pelo Corinthians, quando parei de jogar. Aí me dei conta. Eu sempre treinei com jogadores mais velhos do que eu desde os meus 11 anos. Estava acostumado àquilo. E era a minha profissão. Quando me falaram que eu ia jogar contra o Cruzeiro, pensei: “Ok, vamos lá!”.
@ Nelson Coelho
Zé da Fiel conquistou a torcida por sua raça e entrega em campo com a camisa do Timão
Depois de 20 anos, quando saio nas ruas, as pessoas apontam para mim, principalmente pais com filhos, e falam: “Olha lá, esse aqui é o nosso Zé da Fiel”. Acho que essa relação existe até hoje porque eles nunca desconfiaram da minha entrega dentro de campo. O mais gratificante é quando esse tipo de coisa acontece ao lado do meu filho de seis anos. Ele não me viu jogar, mas me fala: “Pai, eu sei que você é o Zé da Fiel”. E com um brilho nos olhos.
Se fosse para dar um recado para o corinthiano, eu citaria a música das arquibancadas: “Corinthians, minha vida, minha história, meu amor!”. A gente nunca esquece do nosso primeiro amor. Eu tenho muita gratidão ao Corinthians por ter me dado a oportunidade de eu ser quem eu sou hoje.”
Reveja os gols de Cruzeiro 0 x 2 Corinthians, pelo Brasileirão 1993